23 de julho de 2010

Mais pressões e despejos na periferia de São Paulo — Brasil de Fato

O samba de Adoniran Barbosa (Despejo na Favela), que inspirou este blog, é de 1969. A realidade dura que ele canta, porém, continua se repetindo nas periferias das nossas cidades...
Esta notícia acaba de chegar, e eu já divido com todos.
Triste, mas infelizmente não é surpresa. Principalmente nesses tempos neocons de Kassab & Cia...

Mais pressões e despejos na periferia de São Paulo — Brasil de Fato

20 de julho de 2010

O Samba agoniza ou nunca agonizou?

Muito bom esse texto do Nei Lopes! Pra pensar sobre várias coisas: patrimônio cultural, samba & tradição, cientificismo...
Recomendo!

COMPUTADOR DA USP, BÊBADO-EQUILIBRISTA, DELETA O SAMBA.
(Nei Lopes – O Estado de S.Paulo – sábado, 5 de junho de 2010)

Volta e meia aparece alguém decretando a morte do samba, ou achando que ele é alguma coisa difusa e antiga que existiu musicalmente em tempos idos. Isso já motivou letras e letras, tentando mostrar o contrário. Em uma delas, por exemplo, Nelson Sargento diz que o nosso gênero-mãe “agoniza, mas não morre”, numa afirmação da qual pedimos licença para discordar, pois o samba, desde o Pelo Telefone, nunca esteve agonizante. Muito pelo contrário!
Semana passada, mesmo, estivemos lá no Espaço Anhanguera, na Barra Funda, no terceiro aniversário da roda de samba dos Inimigos do Batente, turma que lê Bourdieu e sabe que nas trocas simbólicas do samba tem muito mais negociação do que conflito. Pois a festa “botou pelo ladrão”, com pelo menos mil pessoas cantando e dançando até quase de manhã ao som do batuque ancestral.
Fora dali, outras provas eloquentes da vitalidade e da diversidade do nosso ritmo poderiam ser claramente vistas ou ouvidas, por exemplo: na contemporaneidade do Clube do Balanço, com seu samba-rock; no Quinteto em Branco e Preto, que trafega entre a modernidade elegante e a tradição engajada, nos palcos e no disco, já há quase 15 anos; no trabalho espiritualizado e reverente da cantora Fabiana Cozza – e isso, falando só da Pauliceia.
Pois é. Desde 1917. E, assim, historiando, lembremos de Tempos Idos, obra na qual o grande Cartola se orgulhava de o samba ter saído do morro e chegado aos salões, indo exibir-se “pra Duquesa de Kent no Itamarati”, como de fato aconteceu nos anos 50. Essa trajetória, anotada pelo genial compositor, simbolizaria a ascensão social do gênero e da cultura que o gerou. Coroada em 2001 com a outorga da Ordem do Mérito Cultural a quatro das escolas de samba cariocas pelo Ministério da Cultura, em solenidade palaciana de Brasília, essa ascensão culminaria logo depois com o tombamento do samba como patrimônio imaterial da humanidade.
Medalhas e brasões todos sabemos quanto custam. Da mesma forma que sabemos que o tombamento de um bem cultural tanto pode protegê-lo contra dilapidações quanto propiciar o engessamento de possibilidades desse bem, seja ele tangível ou imaterial. Além disso, a cultura brasileira, quando fala de samba, está quase sempre se referindo às escolas, numa generalização ingênua.
Sabemos que é difícil, para quem não é do ramo, perceber a diferença que hoje existe entre samba e escola de samba, e o grande fosso que se cavou entre essas duas instituições. As escolas nasceram bem depois do samba, com a intenção de desestigmatizá-lo e legitimar sua aceitação pela sociedade dominante. Mas elas hoje, embora deslumbrantes, cada vez mais se distanciam do universo que as criou.
Se o leitor ainda não compreendeu a diferença, compare, por exemplo, certos aguerridos conjuntos de “velhas guardas” com as agremiações que lhes emprestam os nomes. E, de quebra, evoque um grande sambista, principalmente falecido, e veja se seu nome é sequer lembrado nas “quadras” de hoje, cheias de gente “famosa”.
E é em meio a essa reflexão que nos chega a notícia de que um programa de computador desenvolvido por pesquisadores da USP e da Universidade de São Carlos, visando a acabar com as “atuais, e subjetivas, definições de gêneros musicais”, está promovendo uma reclassificação. Por meio de espécies de partituras digitais, tomando como base a percussão e abolindo as categorias tradicionais, estabeleceram-se padrões que serviram para reclassificar 400 músicas, geralmente agrupadas nas categorias rock, reggae, bossa nova e blues. E, aí, a máquina, reconheceu como “100% bossa nova” o grande samba O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco & Aldir Blanc, conforme matéria publicada pelo jornal O Globo.
Confundir samba-enredo com bossa nova não é culpa da máquina, claro, e sim de quem, ao alimentá-la, não teve a sensibilidade de entender que o gênero é o samba, e que a bossa nova é apenas um belo estilo interpretativo nascido dele ou, quando muito, um subgênero.
Nesta, Candeia, que sabe das coisas, já deve ter pensado lá do outro lado: “Meu Deus! O samba apanhou da polícia, foi garfado pelas múltis, e agora é deletado pelo computador…”

3 de julho de 2010

Falando da seleção

Acabou a Copa do Mundo 2010 para nós, brasileiros. Decepção, desilusão, ou uma "trajédia anunciada"? Como um dos milhões de técnicos de que o Brasil dispõe, vou deixar aqui alguns comentários despretensiosos. Claro que é assunto pra causar polêmica. Espero que sim!

Foi só um jogo
Começando pelos pontos positivos. O Brasil perdeu um só jogo, justo no momento em que não podia. Paciência. Não acho que tudo estava errado desde o princípio só por causa desta partida. Tudo bem, a campanha da seleção não foi nada brilhante: vitória apertada sobre a Coreia do Norte, empate bisonho com Portugal (jogo de comadre, ok, mas muito feio, e muito diferente do que esperamos da seleção). Mas o Brasil não deixou de estar, em toda a competição, no mesmo nível de todas as favoritas.

Um time
Podemos discordar do time montado por Dunga, da convocação e escalação, do estilo de jogo. Mas Dunga cumpriu a risca o que prometeu: criou um time que é um conjunto, e não uma soma de jogadores. Um senso de coletividade, solidariedade, os egos controlados. Isso é uma lição que não se deve perder.

Defesa sem defensivismo
Talvez alguns achem que sim, mas não vejo esta seleção como um time retranqueiro, ou coisa parecida. Mas foi uma das primeiras vezes em que a defesa brasileira não dava calafrios cada vez que era atacada. E eu lembro que até em times tidos como "defensivistas", como a seleção campeã de 1994 ou o time do Lazzaroni, era assim. É muito bom torcer para um time que perde pouco.
De fato, talvez uma das razões imediatas da desclassificação foi que contra a Holanda falhou justamente isso que tínhamos de mais confiável. A começar pelo goleiro...

Descontrole
Agora, os pontos negativos. A seleção confundiu raça com descontrole, levou "lutar" ao pé da letra. Dois jogadores expulsos mais os que acabaram cumprindo suspensão, e isso em só cinco jogos! E, pelo amor de Deus, esse Felipe Melo precisa de tratamento psiquiátrico!!

Poucas opções
Uma seleção brasileira sem opções no banco? Nunca vi isso! Acabou que o time ficou dependendo demais da inspiração de uns poucos. Vejam a falta que fez o Elano! E ele que não é nenhum Zico, mas joga direito, tem visão de jogo e toca bem. Kaká recém-contundido, fez o que pode, mas estava muito longe do seu potencial. Robinho até que tentou, mas também não fez uma copa à sua altura. E acabou. Sem esses três, como foi contra Portugal, o que o time era capaz de criar? Absolutamente nada.

Faltou criatividade
Faz muito tempo que eu percebo que o Brasil não consegue jogar bem contra times fechados, na "retranca". Claro que é mais difícil, mas essa é a regra entre adversários do Brasil, e temos que saber o que fazer. A impressão é que o time não sabe abrir times fechados, forçar o erro adversário. E, o que impressiona, parece que escolhe sempre o caminho mais difícil, onde tem mais adversário. Contra times pequenos não é problema, porque não oferecem perigo, mas fica um jogo irritante. E contra grandes times bem armados (como foi a Holanda, ou mesmo Portugal), o Brasil simplesmente não criava nada. Temos que esperar que os adversários sempre nos ataquem? Ilusão...

Acertem o passe!
Pra mim não tem coisa mais irritante do que errar passe, e não tem melhor indício do que esse de que um time está jogando mal. E o Brasil tem essa tradição: na jogada individual, na tabelinha curta, ótimo. Mas aí o jogador faz um drible maravilhoso num lance, e em seguida erra um passe simples. Isso é de matar.

Bom, isso é o que estou lembrando de imediato. Quem mais quer opinar?