6 de agosto de 2013

Uma homenagem a Adoniran

Seria muito injusto da minha parte não prestar uma homenagem hoje, dia em que se celebram 103 anos de nascimento do sambista Adoniran Barbosa, ao inspirador do próprio nome deste blog. Gostaria de escrever muito mais, mas por ora vou apenas transcrever um trecho da minha tese (pra quem tiver interesse, pode acessar o texto completo aqui), em que falo de um aspecto de sua vida, nem sempre muito ressaltado.
A partir de meados dos anos 1930, Rubinato passa a buscar com afinco a realização do desejo de trabalhar como artista de rádio, intento que alcançou na década seguinte. O que não deixava de ser uma escolha audaciosa, considerando que “artista”, na década de 1930, era sinônimo de vagabundo (...). Cantor de rádio, então, nem se falava. Pouquíssimos eram profissionais (...), sobrando para a maioria uma espécie de mendicância pelas estações atrás de oportunidades” (CAMPOS JR., 2004: 24). Ainda assim, uma escolha que denotava um acurado senso de oportunidade, visto que as numerosas novas estações de rádio que surgiam então na cidade estavam “abrindo um formidável campo de trabalho para cantores, comediantes, speakers, músicos e radioatores” (idem, p. 31). 
Para tanto, mobilizou todos os recursos de que dispunha: como o trabalho de vendedor lhe possibilitava andar pela cidade, não tardou para que identificasse onde encontrar outros músicos, atores e demais artistas, apresentadores e técnicos, e se fizesse conhecer por eles. A construção dessa “rede” de contatos propiciou-lhe algumas oportunidades de testes em emissoras, parcerias em composições e participação em concursos de carnaval (portas começaram a se abrir quando sua composição Dona Boa – parceria com José Aimberê - ganhou o concurso de marchinhas para o carnaval de 1935). 
O fato é que, na base de tenaz insistência, o jovem Rubinato acabou sendo aceito na rádio Record no início dos anos 1940. Sua primeira fonte de renda era um cachê de 15 mil-réis por uma participação semanal de 15 minutos na programação da emissora. Com isso, teve a possibilidade de ampliar seus contatos, agora também com pessoas do meio fonográfico, além de roteiristas e produtores de programas radiofônicos, entre outros.
Nos insistentes e contínuos esforços de João Rubinato para se tornar Adoniran Barbosa, fica minha homenagem a quem, melhor do que ninguém, cantou os trabalhadores de São Paulo no século XX.