14 de junho de 2013

São Paulo, 13 de junho de 2013: relatos

Em casa, em estado de choque e trêmula, após quase ter sido presa por uma polícia despreparada, covarde e violenta. Acompanhei a manifestação desde o início, na frente do Teatro Muncipal. Saímos de lá tranquilamente, muitas famílias, pais com crianças pequenas nos ombros... Muita tranquilidade e gritos de "sem violência". Tudo calmo, a passos lentos, sem correria. Passamos por boa parte do centro, entre os carros (grande parte dos motoristas com os vidros abertos e apoiando a manifestação), motoristas de ônibus e passageiros nos saudando com palavras de apoio. Até chegarmos à Consolação e sermos recebidos com balas de borracha, bombas de efeito moral (gás, pimenta, não sei que merda era aquela), só sei que comecei a passar mal e corri para uma rampa de garagem (da Justiça Federal, ironicamente) e desisti de seguir. Falei aos meus amigos que iria ficar ali pelo fato de não conseguir mais enxergar e que esperaria a polícia passar. Todos correram e a polícia ficou e ATACOU todas as pessoas que como eu, pararam por não ter mais forças pra correr. Perguntei ao policial o que eu deveria fazer e ele disse: ou corre com a multidão ou fica e vai presa, porque nós vamos prender quem ficar aqui. Decidi ficar por não ter mais força mesmo e também por não acreditar que aquilo fosse acontecer. Todos que estavam ali, estavam passando mal, esgotados e sem forças para correr. Ao vermos os policiais descerem a rampa em nossa direção com armas em punho e com gritos de "cala a boa, caralho"... (estávamos todos quietos e calados), eu entendi que iríamos presos. Ou que iríamos apanhar muito. Não apanahmaos porque tinha gente da imprensa conosco. Mas ficamos de cara pra parede, com mãos pra cima e sem abrir a boca. O policial continuou apontando armas para todos, revistou as nossas bolsas e deu ordem de seguir em fila para o ônibus. Assim os primeiros fizeram...Não sei com que coragem, saí da fila e pedi pelo amor de deus (humilhante) para não ser presa. Implorei, me humilhei e por sorte fui tirada da fila e jogada junto aos jornalistas. Nunca passei por tamanha humilhação em toda a minha vida. Me descontrolei ao ver todos que estavam comigo, entrando no ônibus, escutei policiais covardes falando ao celular com colegas, perguntando sobre o que fazer e dando gargalhadas e repetindo a frase: "é pra levar praí e aí vocês descem o cacete, né? hahahaha, estou enviando o primeiro ônibus, recebe eles aí". Polícia despreparada e covarde. Manifestantes pacíficos e corajosos! Infelizmente eu não terei mais coragem de ir na próxima. Meu total apoio, respeito e admiração a todos que lá estiveram e minha eterna gratidão aos jornalistas que me acolheram e que me levaram até o metrô de volta pra casa. Sem eles, eu teria me descontrolado e teria um ataque de pânico frente à tamanha brutalidade. Não fotografei nada por não ter muita prática com foto de celular, mas não poderia deixar de relatar aqui o que passei. Infelizmente, eu não tenho mais coragem e me sinto um lixo por ter salvado a minha pele enquanto os outros que estavam comigo estarem presos desde então.
J. C., cidadã paulistana

Fui testemunha hoje do caráter pacífico da passeata. Cheguei na Praça da República 10 passos à frente do movimento, que vinha cantando e tocando tambores. Medo dava era do aparato policial "preparado" para a ocasião: furgões e mais furgões da tropa de choque aguardando com homens paramentados de cima a baixo, carros e mais carros, além de motos da PM, um sem número de policiais de prontidão e disseram que houve até cavalaria (não é, B. V?). A M. P. disse que gritou "Ditadura!" e o policial respondeu "Cala a boca que você pode ser presa!".... Oi?? O T. L. disse que, na terça-feira, se protegeu numa estação de metrô e jogaram uma bomba de gás lacrimogênio DENTRO da estação!! E agora vejo relatos e mais relatos de gente que estava lá e sofreu/viu a truculência, como a T. M. R. Atenção! NÃO estou dizendo que não houve vandalismo por parte de alguns do movimento. Só acho que precisamos realmente olhar com mais cuidado a unilateralidade da mídia e, consequentemente, da opinião da maioria da população, sobre o assunto.
M. M., cidadã paulistana

Nenhum fotógrafo, nem um dos milhares de cinegrafistas amadores, e muito menos emissoras de televisão que flagraram o momento, conseguirão reproduzir com tamanha maestria a tensão devastadora que cobriu a Rua da Consolação hoje, cerca de 20h30 da noite, da forma como EU vi. No segundo andar do estabelecimento em que estudo, como assistindo de camarote e de um ângulo excepcional – exatamente no meio do fogo cruzado -, presenciei aquela cena triste: polícia e manifestantes, após muita correria, prostraram-se frente a frente, encarando-se em absoluto silêncio, como o confronto final de um filme de aventura, quando os estudantes revoltosos, a fim de transmitir o que queriam desde o começo, levantaram os braços e se sentaram no meio da avenida, em um nobre pedido de paz. Alguns segundos depois, seus antagonistas, de cima de seus cavalos e de trás de seus escudos, responderam-lhes impiedosamente com tiros e bombas.
V. T., cidadão paulistano

Acabo de retornar dos protestos na região central de São Paulo. Fui somente como observador, com dois objetivos: saber quem são os ativistas e tentar descobrir como começam os atos de violência. O que vi e ouvi:
1. Milhares de jovens se concentravam pacificamente na praça Roosevelt quando, sem nenhum motivo aparente, a polícia iniciou um intenso bombardeio. Bombas de gás lacrimogênio explodiam sem parar, produzindo estrondos muito altos e assustadores. Nunca presenciei nada parecido no centro da cidade. Os ativistas, pelo menos naquele momento, não reagiram. Muitos apenas gritavam: "Sem violência, sem violência!" Mesmo assim, a artilharia prosseguiu. O ar se tornou irrespirável e os manifestantes começaram a se dispersar.
2. Corri em direção à rua Rego Freitas, quando recebi máscaras cirúrgicas, distribuídas por moças e rapazes que se encontravam diante do coletivo Matilha Cultural. Eles nos convidavam a entrar. Ali, as máscaras eram encharcadas com vinagre, substância que corta o efeito do gás lacrimogênio.
3. Quando retornei à rua, havia sacos de lixos pegando fogo e algumas caçambas tombadas _tudo no meio da via, para impedir o avanço da tropa de choque. Rumei em direção à rua da Consolação. Mal cheguei ali, na altura do Mackenzie, avistei uma quantidade grande de policiais motorizados, que ocupava toda a pista sentido bairro. Naquele ponto, um ônibus pichado fora abandonado, mas já não ocorria nenhuma manifestação. Dispersos, os ativistas se misturavam à população que não se engajara no movimento. Caminhei alguns metros pela calçada quando me deparei com um cordão policial bastante hermético, que bloqueava a rua. Mais adiante, bombas explodiam, sem que eu pudesse ver o que estava acontecendo. O ar começou a ficar novamente irrespirável. Um dos soldados se dirigiu a nós, que simplesmente caminhávamos, apontou uma arma com balas de borracha para o chão e gritou: "Dispersar, dispersar!" Começou a atirar. Todo mundo correu, lógico.
4. Sem ter como prosseguir pela Consolação, decidi pegar o metrô na estação Santa Cecília. Andei até lá. Ao longo do caminho, muitos jovens conversavam em pequenos grupos, sem nenhum policial por perto. Quando entrei na estação, dei de cara com uma fila imensa. Eram centenas e centenas de passageiros que tentavam cruzar as catracas. Como as ruas das redondezas estavam bloqueadas, só lhes restava pegar o metrô. Fiz um cálculo rápido e concluí que levaria muito tempo para conseguir embarcar. Resolvi andar até a avenida Pacaembu, onde acabei tomando um táxi.
5. Quanto aos manifestantes: os que vi são, na maioria, bem jovens _talvez tenham entre 18 e 25 anos. Aparentavam pertencer à classe média e morar longe das periferias (ATENÇÃO: não há, nessa observação, nenhum juízo de valor). Chamou-me a atenção especialmente a coragem e a convicção com que encaravam a reação da polícia. Algo de muito forte e genuíno parece movê-los, para além da reivindicação em torno do transporte público. Ainda não compreendi exatamente o que é.
A. A., cidadão paulistano

Cheguei ao ato por volta das 18:30, estávamos na Ipiranga e lá permanecemos parados um tempo, para subir a Consolação, quando começamos a subir a avenida estava tudo bem, um movimento totalmente pacífico. Até que o Choque chegou, da alça da Amaral Gurgel, e ao ouvir o grupo entoar "sem violência" já tascou umas balas de borracha. Eu vi, foi do meu lado! Logo depois nos (não sei quantos milhares) cercaram e prensaram na Roosevelt, jogando bomba de gás lacrimogênio por todos os lados, foi muito tenso, porque era muita gente tentando se livrar das bombas, correndo. Essa foi a primeira dispersão, subimos (uma parte) a Augusta, mas por onde quer que fôssemos, aparecia o choque, as bombas e a correria, depois também veio a cavalaria. Dada hora eu já nem queria mais achar o ato, só queria arrumar um jeito de sair da ratoeira que a PM foi armando na cidade, com uma truculência totalmente gratuita, injustificável e inacreditável.
L. T, cidadã paulistana

Não tenho palavras pra falar as coisas que passei hoje, mas por enquanto, fiquem só com os momentos finais: nós na Paulista, choque fechando a Augusta/Paulista, choque fechando Augusta/Consolação, nós corremos pra entrada do metrô e não nos deixaram entrar. Estávamos lá pedindo pra abrirem a estação quando passam na calçada 10 motos em alta velocidade com policiais dando cacetada na gente gritando HOJE NÃO TEM METRÔ.
Eu queria ter quebrado o metrô pra entrar e vir pra casa. Eles não estavam deixando as pessoas irem pra casa.
Isso foi só o final.
Quem tiver coragem de chamar os manifestantes de vândalos a partir de hoje merece só meu desprezo. Fiquei na manifestação das 17h as 20h30 e não vi nenhum ato de vandalismo. Vi policial tacando bomba de gás e bala de borracha em QUALQUER AGLOMERAÇÃO. Uma senhora levou uma bomba na cara porque estava parada numa esquina da Consolação.
E os manifestantes diziam: não corram. Mantenham a calma. Eles querem nos desesperar, vamos ficar juntos. Todo mundo junto. Mas não dava: quando você vê as pessoas correndo atrás de você gritando choque e as bombas estourando a alguns metros não há o que fazer a não ser correr.
Não sei se as pessoas têm ideia do que aconteceu hoje em SP.
C. L., cidadã paulistana

Hoje foi um dia histórico, um 13 de junho de 2013 para marcar um ponto de virada! As maiores manifestações populares em São Paulo e em todo o país, o despertar de uma nova geração para as grandes campanhas nacionais de lutas sociais!
Começou um novo movimento popular, fora do controle do PT, CUT, UNE e todos os traidores aliados com o PSDB. A dupla Haddad/Alckmin declarou guerra contra o povo! Agrediu sob o olhar do país inteiro uma marcha gigantesca e pacífica sem nenhum motivo!
O movimento, é óbvio que vai crescer!
Agora é indignação, o que faltava para o nosso país entrar na onda das primaveras de lutas dos povos do mundo.
Uma campanha de luta popular que vai crescer.
O próximo ato vai ser maior!
Quando juntarmos centenas de milhares nos protestos os governantes vão se dar conta que erraram, subestimaram o povo, desafiaram a juventude e agrediram a cidadania!
H. C., cidadão paulistano

Agora são 21h e acabo de receber a ligação do M. S. que informa estar entre milhares de pessoas encurraladas pela tropa de choque e PM na Avenida Paulista que foi totalmente bloqueada. M. informa que foram bloqueadas todas saídas e acessos da Paulista e a força militar não deixa ir embora nem manifestantes, nem pessoas que estão contra a manifestação, nem trabalhadores que nada tem a ver com o evento. Portanto, M. está desesperado, pedindo ajuda de quem puder. Pediu para que divulgasse aqui no mural na esperança de socorro. Segundo ele a polícia está atirando indiscriminadamente com balas de borracha na direção de uma multidão encurralada. Informou também que já vomitou várias vezes e que não tem como fugir.
C. C.,  cidadã paulistana

Clima de ditadura: Fui detido na Praça do Patriarca hoje a caminho do ato no Teatro Municipal. Eu e o camarada Anderson estávamos caminhando pelo calçadão da Rua Direita, carregando faixas enroladas. Nos detiveram, fomos levados atrás de umas viaturas, ali nos revistaram. Como não tínhamos vinagre conosco seríamos soltos, mas um oficial que viu as faixas nos mandou para o paredão onde estavam detidos os que foram pegos com vinagre. Ficamos quase meia hora com as mãos na cabeça, de frente pra parede sem poder olhar pra trás, recebendo ameaças de que apanharíamos. Interrogaram se tínhamos passagem pela polícia, pegaram nossos documentos. Enquanto isso todos que foram pegos com vinagre foram sendo colocados nos camburões e levados à delegacia. Um perguntou: "Mas por que estou sendo preso?" e a resposta: "Cala a boca senão apanha! Vai se explicar pro delegado!" Nós fomos liberados por não termos vinagre! Prenderam dezenas por "porte de vinagre"?! Tomaram nossas faixas. Assim começava o ato contra o aumento das tarifas em SP...
C. D., cidadão paulistano

Alguém sabe como cortar os efeitos do gás lacrimogêneo, uma vez inalado? Estou com ardor nos olhos, na garganta, até na língua. E com tontura. Descia a Consolação a pé, pois precisava ir ao Sesc para conferir uma estreia teatral (meu trabalho). Não tenho carro; fui de metrô até ali. Havia visto um número grande de PMs na esquina com a Paulista, e os ônibus e carros estavam parados no sentido centro. Continuei caminhando; muitos outros pedestres iam e vinham também. Na altura da Fernando de Albuquerque, os manifestantes começaram a chegar. Gritavam "sem violência, sem violência". Um ou outro carro tentava furar a manifestação, mas tudo ia bem. Parei na esquina, liguei para uma amiga que me acompanharia e avisei-a que eu provavelmente não chegaria. Teria que voltar para casa. O helicóptero sobrevoava exatamente aquele local. Tudo parecia seguir tranquilamente: manifestantes calmos, motoristas conformados. Subitamente, algo explode. Os jovens começaram a correr e a voltar para a Fernando Albuquerque. Eu ainda falava ao telefone. Algo explode ao meu lado. Gás branco. Não enxergo direito, começo a tossir. Todos correndo. Desespero. Outro explosão. Gritos. Instinto de sobrevivência: saí correndo também. Um rapaz chutava as placas, outro espalhava o lixo – sob severas reprimendas dos demais. "Cara, não faz isso, você está desmoralizando a gente!" Eram os mesmos dois fazendo baderna por onde passavam. Um terceiro quebrou o vidro de uma padaria bem do meu lado. Senti algo molhado caindo em mim, não sei o que era. Ele carregava uma garrafa; foi contido por outros dois rapazes. "Para com isso, não tem nada a ver!" O baderneiro começou a berrar: "Não me toca, não me toca, quer encarar?" Nova explosão. Mais gás. Alguém quebra o vidro do carro lá na frente, toca a fogo em algo. Corremos. Eu não parava de tossir. Encontrei um canto qualquer para respirar. Uma moça me viu e ofereceu água. A duras penas, correndo daqui e dali, olhos ardendo e tosse, cheguei de volta ao metrô. Do que vi: (1) A polícia reagiu com truculência a nada. Posso atestar: os manifestantes estavam calmos. (2) Há, sim, um grupo de baderneiros que se aproveita da situação. São poucos e contudentes, mas não representam o movimento. (3) Gás lacrimogêneo é foda. (4) Essa manifestação pode ter começado contra o aumento de R$ 0,20, mas hoje se transformou numa manifestação contra a supressão de nosso direito à cidade. (5) Eu me senti, sim, atacada pela polícia. É meu direito, sim, andar por uma via pública. Eu sinto, sim, os efeitos dos R$ 0,20 a mais porque só uso transporte público. E essa cidade é tão minha quanto de vocês. Fazer manifestação é direito nosso. Obrigar-me a inalar gás lacrimogêneo, definitivamente, pode me dar náuseas e dor de garganta. Mas não tira nem tirará minha voz ou meu direito de protestar. Senhor Geraldo Alckmin, o senhor não me representa. Polícia, a senhora não me "protege".
M. F., cidadã paulistana

Meu filho está na manifestação. Preocupado, acompanho tudo pela TV. O ato era absolutamente pacífico até às 19 horas. Jovens protestavam de forma civilizada. Alguns andavam de skate. A polícia escoltou os manifestantes do Teatro Municipal até o início da Consolação. “Paz entre a Polícia e o Povo", podia ser lido num cartaz. O apresentador da TV elogiada o ato. Mas, se a manifestação permanecesse pacífica, o que o governador iria dizer aos jornais? Nada. O MPL teria dado uma lição de democracia. De repente, de forma absolutamente inesperada e inacreditável, apareceu a tropa de choque e a cavalaria. E investiram contra estudantes e jornalistas com bombas e tiros por todos os lados. Encurralados, dispersaram em muitos focos. A polícia continuou encurralando-os por todas as esquinas. O governador conseguiu seu objetivo: transformou um direito constitucional – que vinha sendo exercido de forma democrática e pacífica – em ato de “baderneiros”. A truculência e a violência praticadas pela polícia são inaceitáveis. Estou indignado. Governador: sua tropa de choque parou São Paulo Bufalo. Parabéns! Ministro da justiça: a “baderna” foi obra do Estado e não dos manifestantes. Truculência e ameaça á democracia é o fato de que nas últimas duas décadas a tarifa do transporte público em SP subiu o dobro da inflação no compasso do caos da mobilidade urbana. Privatizaram tudo e o lucro foi para o bolso de empresários. Isso é que é violência, governador. Minha vontade é de ir para as ruas.
E. F., cidadão paulistano

Sinto que está apenas começando.
Hoje eu fui na manifestação tarifa zero.
Fomos eu, Daniela Teixeira, Thiago Mundano, Tulio Kengi Malaspina, Haldor Omar e André Takahashi, partindo da Estufa as 17:30. Pegamos um onibus na vila madalena e fomos ate consolação, parada pelo transito. Ao descer, mais 3 pessoas que estavam no onibus desceram conosco para o protesto. No trajeto ate o teatro municipal, a multidão foi juntando. pessoas de diversas idades e classes sociais, todas reunidas.
Sentimento de indignação reprimida, de descontentamento borbulhante, de revolução iminente - o aumento da tarifa é só um catalisador.
Ao chegar no teatro, a marcha ja tinha saído. Milhares de pessoas na rua, ate onde o olho conseguia ver. corredores de policias, prontos para atacar.
Ja no inicio, manifestantes eram pescados da multidão por grupos de policiais, abordando de forma incisiva e planejada.
Um cheiro de emboscada no ar.
Ao chegarmos na consolação, frente a praça roosevelt, um muro fardado nos esperava.
Ate esse momento eu nao havia presenciado nenhum tipo de vandalismo. pelo contrario, flores no cabelo que cobriam caras esperançosas e apreensivas, coros quase que ensaiados justapostos ao ar de preocupação.
Assim que a massa se aproximou do muro, a repressão começou, recebido por um grito unificado de "Sem violência!". Rastros de bombas de gás cobriram o ceu iluminado por sirenes, e fumaça pouco a pouco subia, cegando a todos os presentes. A reação variava entre pânico, desespero e raiva.
Nesse momento nosso pequeno grupo, unido desde o começo, se encontrou com a Júlia da Fonseca e o Pablo Capilé, entoando um grito de calma, por breves instantes, qdo o veneno das bombas foi mais forte que a vontade de resistir.
Ao recuar, uma outra ofensiva policial pronta para fechar o cerco se aproximava. Parte da multidao se dispersou para a praça roosevelt, outra parte na rego freitas, onde havia uma brigada de primeiros socorros heroica armada apela MATILHA CULTURAL.
Nesse instante as ofensivas avançaram dispersando a multidão, e a brutalidade policial desencadeou o vandalismo dos manifestantes.
Ao buscar um caminho para reagrupar, só barricadas da policia, tornando a missão suicída.
Constantemente, bombas explodiam pelo ar, interrompendo o som dos helicópteros.
Quem vinha, vinha atordoado, quem ia, ia com medo.
ao encostar num boteco, o choque foi grande com a cobertura da mídia, acusando os "baderneiros", com sua retorica incisiva, distante e sensacionalista. o termo terrorismo foi usado. a persistencia no fato que existiam rumores que 1 policial havia sido machucado gravemente. Na matilha, mais de 50 foram socorridos.
Nesse hora comecei a receber mensagens da Juliana Nolasco Ferreira e do @vinicius russo, relatando os pontos de tensão. Decidi não retornar, por medo de entrar numa emboscada.
Deixo aqui meu breve e sincero relato, de alguém que estava lá e viu, de perto, a realidade.
Bravos os brasileiros que foram
Bravos os brasileiros que lutam pelos seus direitos
Bravo!
Estarei em todos os próximos, e convido a todos que ousem lutar por algo a nos acompanhar. Sinto que está apenas começando.
C. T., cidadão paulistano

Acabei de voltar do ato e nunca vi tanta repressão. A PM não deixou a manifestação subir a Consolação (que ela fechou pro choque) e recebeu pessoas gritando "Sem Violência" e com flores nas mãos com bomba e bala de borracha. Correria, cada turma subiu por um lado (Angélica e Bela Cintra). O que vi? Muitos motoristas buzinando ao som das palavras de ordem, outros tantos emputecidos querendo sair dali, e, dentre as 1000 pessoas que segui, cruzei com 2 anarcos gritando "É vandalismo" - ao que reagi pra ser chamada de burguesa e quase levar uma voadora de um menino de 16 anos. Depois da sétima correria, com a bomba explodindo nas minhas costas, voltei pra casa, com medo, pela primeira vez na vida, de sair na rua pra reivindicar uma coisa na qual acredito. Agora que vi a foto da repórter da Folha, tenho certeza de que meu medo tinha razão de ser. Talvez agora, com tanto jornalista preso e machucado, as pessoas comecem a entender o papel que a PM ocupa nos atos. A liberdade de expressão está sendo ferida desde o primeiro ato, na prisão de anônimos pra desmobilizar o movimento. Minha única certeza depois de hoje, é que a covarde dessa história não sou eu.
B. C., cidadã paulistana

NÃO ACREDITEM NA TV!!!
EU ESTAVA LÁ!
Eu vi uma manifestação que só não era mais lotada que a Sé no horário de pico. Mas muito mais organizada, com certeza.
Estávamos subindo a Consolação, cantando, pulando, tudo tranquilo, os motoristas nos carros que estavam no caminho buzinavam nos apoiando, NENHUMA depredação.
Passaram uns 20 soldados da tropa de choque do nosso lado, correndo para a frente da manifestação, todos já se assustaram e começaram a gritar "Violência não". Em minutos bombas de gás lacrimogênio explodiram, policiais à frente, policiais atrás, ficamos encurralados na praça Roosevelt. À partir daí foi um salve-se quem puder.
Corri por uma rua ao lado da praça para longe das bombas e vi diversos carros de polícia vindo no sentido contrário.
RESUMINDO: Covardia dos policiais! Se aquilo virou uma "praça de guerra", é só ver: quem estava preparado para a guerra? Com bombas, armas escudos e capacetes? Os manifestantes não, com certeza.
70 presos. Querem ganhar na base do medo. Eu tenho medo, medo da violência policial. Mas minha coragem de estar lá nos próximas manifestações será maior.
A quem ainda acha que "é tudo baderna, vandalismo", convido a comparecer a uma manifestação, ver as coisas além das lentes de TV, e tirar suas próprias conclusões.
COMPARTILHEM ESSE DEPOIMENTO, as mentiras dos telejornais não podem ser maiores que as verdades das ruas.
B. A., cidadão paulistano

Estava à frente da manifestação, vi a PM abrindo a Consolação pra massa subir após negociação, eram 2 carros e várias motos fechando. Eles liberaram...
Vou pegar uma cervejota no primeiro bar da maria antonia, preparando pra subida.
De repente, da Cesário Mota, uns 10 PMs com escudo aparecem e fecham a Maria Antônia. Não havia nenhuma hostilidade! Os caras se juntaram, ombro com ombro. Pensei “é merda”.
Começam que nem doidos a atirar bomba pra todo lado, inclusive pra rua q estava vazia.
A PM começou a merda, ninguém me contou, vi a cena a 5 metros.
P. E., cidadão paulistano

Vou relatar até aonde eu consegui seguir a Manifestação contra o Aumento da Passagem hoje dia 13/06, por favor repassem ao máximo!
Nos reunimos no Theatro Municipal, gritos de protesto, muito tambor batendo, muitas pessoas, muitas MESMO. Saímos de lá e pegamos a Avenida Ipiranga, até ai tudo tranquilo, eu fui primeiro no meio da manifestação e depois fui a frente junto com a bandeira principal. Da Ipiranga seguimos até o começo da Consolação, parando por vezes para reunir o pessoal, na Consolação, perto da igreja e da praça Roosevelt a coisa começou a pegar, tentaram negociar para a polícia deixar a gente subir, quando a tropa de Choque veio pela direita, próximo a Rego Freitas, e ai começou.
Bombas de efeito moral que se seguiram por de gás lacrimogênio, meus olhos ardiam, mas doía mais por saber que não tínhamos feito NADA, só estávamos protestando, batucando e exigindo o direito de todos! Alguns revidaram, mas logo foram contidos, muitas vezes voltamos e fomos a frente no meio da Consolação, mas mesmo assim choviam bombas e balas de borracha. Não dava. Nessa hora meus olhos já lacrimejavam. Alguns jornalistas estavam ilhados no meio da Consolação cobrindo e provavelmente foram esses que foram alvejados conforme matéria que já saiu na imprensa.
Seguimos então pela Caio Prado e após pela rua Augusta subindo, viramos na Antonia de Queirós e seguimos pela Bela Cintra, mesmo os carros parados, alguns muitos nos apoiavam e buzinavam pra ajudar a fazer barulho, a galera no prédio batia palmas e seguíamos com flores que haviam sido distribuídas anteriormente, fomos até a Fernando de Albuquerque e tentamos entrar na Consolação de novo, quando começamos a subir desceu o Choque que estava na Paulista com a Consolação esperando. Voltamos correndo pela mesma rua devido as bombas e as balas, mas não entramos na Bela Cintra, quando estávamos chegando na Augusta novamente o Choque, voltamos e aqui corro no risco de nomear as ruas erroneamente porque o Choque estava a frente jogando bombas e atrás também.
Sim! Fomos ENCURRALADOS ENTRE DUAS RUAS SEM CHANCE DE DEFESA E FUGA.
Mesmo assim seguimos em frente ao Choque e pegamos a direita acredito que na Haddock Lobo, viramos e os grupos já haviam se dispersado.
Durante a subida mesmo correndo do Choque vi um menino que parou para avisar uma senhora idosa que estava na porta de casa para entrar e fechar as janelas pra se proteger do Choque. Seguimos por algumas ruas até subir a Peixoto Gomide, perto do Trianon, e aí sim.
PARAMOS A PAULISTA.
Cabe ressaltar que não estávamos destruindo NADA e nosso grito de guerra era "Sem Violência!". O que alguns aprontaram pelo caminho muitos arrumaram.
Conseguimos permanecer por uns 5 minutos e lá vem o Choque de novo, sem cerimônia, sem nem pestanejar, já tacaram bombas e ai corri mais uma vez, já não aguentava mais correr, operei a perna a 3 meses e ainda me recupero, não sei da onde tirei forças, e ai cedi, entrei no Trianon e embarquei na linha Verde para a Consolação.
Na Consolação desci e no meio da estação já a correria e pessoas passando mal com o gás que havia entrando dentro da estação, um outro grupo foi pego por lá, pessoas que não tinham nada a ver foram alvejadas por balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Ajudei um trio que falava espanhol e uma menina passando mal, ofereci água, o pouco que ainda tinha, conversei um pouco pra saber se eram da Manifestação e confirmei, não eram, estavam passando e conforme relataram já chegaram tacando bombas e atirando.
Dali segui pela linha Amarela, Vermelha e enfim casa.
Esse é o meu relato, embarquei no metrô um pouco mais que 20h30. Pessoas me olhavam, conversavam, algumas falavam alto que queriam ver isso na época da Ditadura. Simples eu estaria lá também.
E no próximo eu estar
ei de novo!
L. B, cidadã paulistana