Recentemente, em vários âmbitos, tem havido uma crescente manifestação de descontentamento em relação a uma suposta corrupção generalizada no Brasil. Para ficar em dois exemplos: o mais óbvio, aquele que relaciona a corrupção aos "políticos" brasileiros; e, em outro caso mais prosaico, as insinuações que se lançam contra qualquer juiz de futebol que cometa erros capazes de favorecer um time qualquer.
Seria ingenuidade afirmar que não pode e não existem casos de corrupção, que não haja ninguém verdadeiramente corrupto. Mas o que esse post quer colocar em questão é a facilidade com que se generaliza uma percepção pontual para um quadro da situação como um todo, e o porquê de essa postura ser tão maléfica para a sociedade como um todo. A resposta para a pergunta que intitula esta postagem sai dessa discussão.
O ponto em comum entre os dois exemplos citados é que ambos levam à conclusão de que qualquer pessoa que alcance uma posição de poder será necessariamente corrupta - se não é, ainda virá a ser. Vai a perder de vista há quanto tempo se faz a associação político = corrupto (do meu conhecimento, isso já era recorrente nos programas de rádio dos anos 1940 - não há por que duvidar que não seja ainda mais antigo). E talvez tenha nascido junto com o futebol o xingamento "juiz ladrão". No entanto, tanto um exemplo como outro é originário de um tom crítico segundo o qual essas situações não deveriam ocorrer - daí a associação com a corrupção faz do político um personagem execrável, e do juiz que favorece deliberadamente um time de futebol alguém desviante do comportamento esperado.
Porém, esses são casos que devem ser sempre mantidos no concreto: casos específicos, pessoas com nomes, etc. Do contrário, o efeito crítico se perde, e se inverte: em vez de indignar, causa resignação. "É sempre assim", ou "sempre foi assim, e sempre vai ser". A generalização dessa percepção de que toda pessoa com poder é corrompida leva as pessoas a duas atitudes: (1) desistir de fiscalizar, acompanhar e cobrar posturas adequadas; (2) supor de antemão que qualquer acusação é verdadeira, porque a culpa é presumida pelo simples fato de se estar acusando um político ou juiz de futebol ("se está lá, não é à toa"). Tanto uma atitude como outra pode resultar no desestímulo a quem deseja fazer diferente, e - o que é ainda pior - torna essas áreas particularmente atraentes para quem não deseja mais do que continuar a fazer do velho e mau jeito.
Pressupor que um político é necessariamente corrupto ou um juiz necessariamente favorece qualquer time não contribui para diminuir essas corrupções, pelo contrário: diminui o empenho em fiscalizar, faz qualquer denúncia concreta se diluir no oceano da "corrupção generalizada". E isso não significa achar que só há casos pontuais e que não se trate de uma corrupção sistêmica, pois mesmo um sistema é sempre formado de elementos concretos e de relações específicas, que precisam ser desvendadas para que se compreenda qual é, como funciona, e quanto alcança o "sistema". Mesmo que seja para concluir que o "sistema" é muito extenso, perpassa a sociedade de forma muito ampla.
A perda de foco, em resumo, não apenas retira a eficácia de um combate real à corrupção, mas a alimenta. Então, o primeiro passo para enfrentar o "mal" é recusar a totalização preguiçosa, desmobilizadora e resignante. Depois se manter atento, fiscalizar (cada um sabe que área mais lhe interessa acompanhar), denunciar, combater ativamente. E tentar fazer a diferença em sua própria atuação. Não que isso resolverá sozinho o problema da corrupção brasileira, mas ajudará a lhe dar uma dimensão mais real.
Seria ingenuidade afirmar que não pode e não existem casos de corrupção, que não haja ninguém verdadeiramente corrupto. Mas o que esse post quer colocar em questão é a facilidade com que se generaliza uma percepção pontual para um quadro da situação como um todo, e o porquê de essa postura ser tão maléfica para a sociedade como um todo. A resposta para a pergunta que intitula esta postagem sai dessa discussão.
O ponto em comum entre os dois exemplos citados é que ambos levam à conclusão de que qualquer pessoa que alcance uma posição de poder será necessariamente corrupta - se não é, ainda virá a ser. Vai a perder de vista há quanto tempo se faz a associação político = corrupto (do meu conhecimento, isso já era recorrente nos programas de rádio dos anos 1940 - não há por que duvidar que não seja ainda mais antigo). E talvez tenha nascido junto com o futebol o xingamento "juiz ladrão". No entanto, tanto um exemplo como outro é originário de um tom crítico segundo o qual essas situações não deveriam ocorrer - daí a associação com a corrupção faz do político um personagem execrável, e do juiz que favorece deliberadamente um time de futebol alguém desviante do comportamento esperado.
Porém, esses são casos que devem ser sempre mantidos no concreto: casos específicos, pessoas com nomes, etc. Do contrário, o efeito crítico se perde, e se inverte: em vez de indignar, causa resignação. "É sempre assim", ou "sempre foi assim, e sempre vai ser". A generalização dessa percepção de que toda pessoa com poder é corrompida leva as pessoas a duas atitudes: (1) desistir de fiscalizar, acompanhar e cobrar posturas adequadas; (2) supor de antemão que qualquer acusação é verdadeira, porque a culpa é presumida pelo simples fato de se estar acusando um político ou juiz de futebol ("se está lá, não é à toa"). Tanto uma atitude como outra pode resultar no desestímulo a quem deseja fazer diferente, e - o que é ainda pior - torna essas áreas particularmente atraentes para quem não deseja mais do que continuar a fazer do velho e mau jeito.
Pressupor que um político é necessariamente corrupto ou um juiz necessariamente favorece qualquer time não contribui para diminuir essas corrupções, pelo contrário: diminui o empenho em fiscalizar, faz qualquer denúncia concreta se diluir no oceano da "corrupção generalizada". E isso não significa achar que só há casos pontuais e que não se trate de uma corrupção sistêmica, pois mesmo um sistema é sempre formado de elementos concretos e de relações específicas, que precisam ser desvendadas para que se compreenda qual é, como funciona, e quanto alcança o "sistema". Mesmo que seja para concluir que o "sistema" é muito extenso, perpassa a sociedade de forma muito ampla.
A perda de foco, em resumo, não apenas retira a eficácia de um combate real à corrupção, mas a alimenta. Então, o primeiro passo para enfrentar o "mal" é recusar a totalização preguiçosa, desmobilizadora e resignante. Depois se manter atento, fiscalizar (cada um sabe que área mais lhe interessa acompanhar), denunciar, combater ativamente. E tentar fazer a diferença em sua própria atuação. Não que isso resolverá sozinho o problema da corrupção brasileira, mas ajudará a lhe dar uma dimensão mais real.
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