[Andei sumido por algumas semanas, e aproveito a volta para, em vez de só postar textos e notícias interessantes, dar algumas opiniões sobre coisas que estão acontecendo por aí. O primeiro texto é sobre os recentes "escândalos políticos"... Sem a pretensão de ser um ensaio de ciência política, apenas uma provocação sobre em que a nossa gritaria pode atrapalhar mais do que ajudar.]
"O maior esquema de corrupção da história", dizem os jornais, revistas pouco confiáveis - daquelas que trazem no nome um chamamento à observação - e congressistas mal capazes de conter o riso diante da calamidade em que o PT parece ter-se afundado de pouco mais de um ano pra cá.
É preciso ler esse tipo de manifestação com o maior cuidado e uma série de restrições. Primeiro, porque não há de fato nada de novo, a não ser que do partido que se trata se esperasse algo muito distinto. Mas é evidente que a rapidez com que políticos de partidos adversários se apressam em desqualificar o PT tem muito mais a ver com o interesse em tirar a esquerda de cena do que qualquer compromisso sério com a "honestidade" e a "probidade" no trato com a "coisa pública".
Puxar um pouco pela memória não faz mal a ninguém: os partidos que mais comemoram a derrocada deste governo são os mesmos que estiveram, quando governo, envolvidos em escândalos tão ou mais graves do que todos os que vêm sendo noticiados. Com a diferença de que, em certos casos, a opinião pública certamente não contou com uma imprensa tão "combativa" quanto agora.
Ou seja: neste jogo, não há inocentes, não há isentos. Mas se está constatdo que também o PT se deixou "contaminar" pelas práticas corruptas tão brasilianas, ainda assim é extremamente prejudicial se ater a constatações que enfatizem apenas o momento atual, sem problematizá-lo historicamente. A corrupção grassa, mas esta talvez seja a marca distintiva de todo o período da "Nova República" (1985 até hoje) - ou talvez de todo o período republicano (há muitos textos do início do século XX denunciando a "podridão" da política brasileira...), ou quem sabe ainda de antes...
A cada novo episódio, como a dança da deputada, o caseiro, ou o que seja, pipocam manifestações de indignação com a classe política, e sempre se faz crer que chegamos ao fundo do poço. Sai governo, entra governo, e o poço parece inesgotável. Então, a ênfase no imediato, no circunstancial, parece ter como único objetivo desviar a atenção do que deveria ser a questão principal: não a corrupção deste ou daquele governo, mas o sistema político brasileiro, ou a relação Estado-sociedade.
Charges, piadas, programas de televisão, declarações de artistas indignados, depoimentos da população, tudo é aproveitado para se criar uma indignação moderada, mediada, inconseqüente. Que, em lugar de criar revolta e mobilizar a tentativa de mudanças, apenas provoca uma apatia niilista e conformada - "é tudo igual mesmo"...
Assim, todo mundo pode se sentir confortável em xingar o governo, como já xingou todos os anteriores, votar em um candidato que se oponha a "tudo o que aí está" (nunca é demais lembrar, Collor foi eleito como antítese do governo Sarney, tido na época como afundado em um "mar de lama" comparável a tudo o que se vê hoje) e se decepcionar novamente. Aí começa o novo ciclo, passando de uma indignação circunstancial para outra, e continua a situação sem que nada altere a disposição das pessoas para uma ação efetiva de transformação dessa realidade.
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