Numa série de reportagens muito interessantes e importantes, a Rede Brasil Atual vem mostrando relatos de militares que se opuseram à ditadura instaurada em 1964 (confira aqui), e o preço que pagaram por isso. Torturas, perseguição, destituição, ostracismo... Não, nem todos os militares foram favoráveis ao regime, nem todos foram torturados (alguns, como vemos, foram também torturados), e nem todos se alinhavam ao pensamento retrógrado que acabou por prevalecer.
Ao que parece, as dissidências foram purgadas da corporação, e não sei dizer até que ponto a discordância tem espaço entre os militares ainda hoje. Basta lembrar que, todo ano, o Clube Militar continua celebrando a "Revolução de 31 de março", e continua destilando o seu ódio contra as esquerdas, os programas reformistas (e nem estamos falando de "revolução"), os movimentos sociais, e toda tentativa de democratização ampla da sociedade.
Esse anacronismo só faz mal ao país, começando pela própria corporação: que legitimidade tem para a população essas forças armadas que continuam combatendo "comunistas" ou "terroristas" em pleno regime democrático?
O pior é pensar nas resiliências: muitos dos oficiais que implantaram a ditadura em 1964 eram originários da ditadura anterior (o Estado Novo), as técnicas de tortura e de "inteligência" (espionagem) que foram desenvolvidas e aplicadas nesse período se mantiveram na democracia (dita "populista") que se seguiu, e foi só retomada e reforçada no regime militar que se seguiu. Qual a chance de vermos isso acontecer de novo, uma vez que ex-apoiadores da ditadura militar continuam aí, ativos e cada vez mais explícitos na defesa do Estado de exceção?
E, enfim, os verdadeiros inimigos da democracia precisam ser identificados com mais clareza. Apontar apenas para os militares é redutor, simplista e - o que é mais perigoso - ilusório.
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