18 de fevereiro de 2013

Comentários... ecologia x economia?


Retomando os pontos sublinhados da notícia de um outro post:
1) os problemas e desafios da região [Amazônica] passem a ser tratados prioritariamente com enfoque ecológico, antes de o aspecto econômico vir à tona.
Isto é impossível.
Não se pode defender a biologização das questões sociais (econômicas apenas em parte) da Amazônia. Como resolver, por este enfoque, a disputa de terras: pela sucessão ecológica? O trabalho escravo é uma questão ecológica?
Tratando especificamente da questão do desmatamento: o que explica que a floresta esteja sendo derrubada, se não questões essencialmente econômicas - ou melhor, sociais - como: o avanço da pecuária e da agricultura de escala industrial, a grilagem, a exploração predatória da madeira... Não se pode incorrer no simplismo de culpar "o homem", genericamente, ou "o aspecto econômico" assim tão indefinido.
Nada disso significa menosprezar ou ignorar as questões ecológicas. A regulação climática, os ciclos bio/geo/hidrológicos, a biodiversidade e os "serviços de ecossistemas" (de acordo com o Millenium Ecosystem Assessment), para citar apenas algumas questões, devem ser consideradas juntamente (nem antes nem depois) com as questões ditas econômicas.
2) os conceitos de meio ambiente são anteriores à economia
Se a frase é tomada ao pé da letra, é um grande equívoco. O conceito de meio ambiente data, quando muito, do século XIX. Se pensarmos no conceito de ecossistema, ele não surge antes da década de 1930. Já a economia vem sendo desenvolvida em seus conceitos pelo menos desde meados do século XVIII (A. Smith, po exemplo). Mas uma disputa de primazia como esta não ajuda em nada a entender ou a intervir na realidade amazônica.
3) O sistema econômico mundial deve se submeter e ser subordinado ao ecossistema e às leis da natureza.
O problema é que a natureza não nos legou suas leis de forma expressa. Houve um tempo em que os alquimistas julgavam conhecer essas leis. Foram contestados depois pelos astrônomos. A Física clássica parecia ter descoberto as "leis da natureza", até ser posta em cheque pela Termodinâmica. Os darwinistas estavam crentes de compreender melhor as "leis da natureza" do que os lamarckistas. E foram convincentes: muitos no século XIX e XX acreditaram que a livre competição entre indivíduos obedece às leis da natureza. Alguns chegaram a acreditar que a purificação da humanidade pela exterminação das "raças impuras" era uma forma de respeito pelas leis da natureza.
O sistema econômico, enquanto isso, tirou bom proveito desses argumentos enquanto as "leis da natureza" lhe favoreceram (e há quem ainda acredite, por exemplo, que é "natural" as pessoas serem individualistas ou quererem o luxo...), e os desconsiderou solenemente quando não - este parece ser o caso da ecologia (apenas aparentemente). Afirmar que ele deve se "submeter e ser subordinado ao ecossistema e às leis da natureza" significa apenas se esconder atrás de uma convicção e não encarar o problema (o sistema econômico) de frente.
4) destruição dos valores ambientais e culturais cultivados ao longo de séculos de convivência
O velho romantismo ambientalista. O mito da Idade do Ouro: a época (nunca muito bem situada) em que "o homem e a natureza viviam em comunhão". Quantos séculos? O que havia antes? Mudou por quê? E, principalmente, por quem? Por que é tão difícil nomear o inimigo?
5) The limits of growth, produzido em 1972
O relatório que modelava matematicamente o consumo "humano" dos recursos "naturais" e dizia que o crescimento econômico tinha que ser interrompido. O velho legado malthusiano, e a esperta mistura de alhos com bugalhos, já que culpar a "humanidade" como um todo é uma boa forma de não atentar para o fato de que entre os humanos há uma desigualdade fundamental e esta não apenas diferencia a contribuição de cada parcela da humanidade no consumo como o agrava. Foi em reação a esse pensamento que se desenvolveu e consagrou a ideia de sustentabilidade (que também tem seus problemas).
6) Os avanços tecnológicos não estão sendo suficientes para resolver o problema dos limites físicos dos bens naturais.
Se a afirmação é correta, isto significa que não basta tornar a economia mais "eficiente", nem mesmo mais "sustentável" ou mais "ecologicamente correta", enquanto isto se limitar a regular o grau de exploração desses bens. A mudança de padrão necessária implica, portanto, ir além da forma como o sistema econômico funciona hoje. E dar nome ao sistema ajuda a começar a entender o que deve ser mudado de fato: capitalismo.
7) É bem melhor transformar algo que é sustentável em desenvolvimento do que tentar fazer com que uma forma de desenvolvimento não-sustentável se converta em sustentável
Fica então a questão crucial: a ecologia se propõe a superar o capitalismo?

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