18 de fevereiro de 2013

Manifestação política


O post original é de outro blog meu, e estou transferindo para cá, onde faz mais sentido. Foi escrito e publicado em 23/09/10 e, em muitos aspectos, está defasado. Mas em outros permanece integralmente atual e válido, por isso achei interessante postá-lo novamente.

Amigos, a briga de torcidas uniformizadas que está virando esta eleição está ultrapassando os limites do aceitável. Ainda assim, gosto de ver o quanto as pessoas se mobilizam nessas épocas, e discutem o assunto a todo tempo. Decidi escrever alguma coisa hoje só porque algumas bobagens que andam sendo veiculadas não podem ficar sem resposta.
O pior de tudo é ter que ver, diariamente, a disposição antidemocrática de quem vai perder a disputa eleitoral federal. Já inventaram de tudo: "mexicanização" do Brasil, "ausência de oposição"... chega a ser engraçado: será que todo mundo que passou oito anos batendo no PT que nem Judas em sábado de Aleluia, decidiu que vai se calar nos próximos quatro? É a minha única explicação para essa tal ausência de oposição. O PSDB continua firme e forte em São Paulo, Aécio em Minas... quem está perdendo é o Serra e sua gangue, e a mídia, que continua não entendendo o que está acontecendo no país.
A última cartada é um tal "manifesto" contra uma suposta "censura" à liberdade de imprensa e de opinião no país. Se quiser perder seu tempo ou se irritar à toa, aqui vai o link. Eu tenho minha própria opinião a respeito. Não concordo com os argumentos desse manifesto, e não aceito que se queira rotular de autoritário um governo em que a crítica nunca foi proibida. Se houvesse qualquer intenção de "tolher a liberdade de expressão ou de imprensa", não teríamos diariamente o denuncismo, a profusão de calúnias e a parcialidade que têm marcado a atuação de veículos de imprensa como o Estadão, a Folha, o(a) Globo, a Veja principalmente.

Que esses veículos tenham sido criticados por integrantes do governo e do PT é nada menos do que natural diante do tom com que tem sido acusados. Isso está muito longe de isso significar que querem "calar a crítica". Pelo contrário, quem critica tem que estar disposto a ser também criticado. Ou, como já dizia minha avó: quem fala o que quer ouve o que não quer. Não vejo, nas atitudes tomadas pelo governo, uma tentativa de censurar a imprensa, mas para mim está claro que numa sociedade dita "da informação", os veículos de comunicação devem assumir responsabilidades (e ser responsabilizados) na mesma medida em que tem o suposto "direito" de dizer o que bem entendem.

Assim como repudio o autoritarismo, repudio também o elitismo. E é isso que vejo em muito da crítica à aprovação que o governo tem recebido: termos como "populismo", "assistencialismo" (vide abaixo) e tantos outros são usados a torto e a direito sem nenhum objetivo que não o de desqualificar um "oponente" - e não aquilo que se espera em uma democracia, que é a tolerância e o respeito a que você se refere. Fora minha opinião de que isso mostra o quanto uma parcela da população ainda não aceita que as pessoas menos articuladas, menos instruídas e menos favorecidas também participem do jogo político legitimamente, também não vejo nenhum - repito, nenhum - crítico do governo petista que se dê ao trabalho de discutir em termos minimamente respeitosos. Isso é democrático?
Não tem nada mais longe de "assistencialismo" do que a política de proteção social deste governo, e quem me diz isso é um conjunto de assistentes sociais que trabalham comigo - muitas deles nem petistas são. Fora isso eu também tenho oportunidade de testemunhar pessoalmente o quanto a circulação inédita de dinheiro em certas localidades pelo Brasil afora está mudando relações há muito estabelecidas de dependência, subserviência e submissão da população pobre. Não vê quem não quer, ou quem não quer se dar ao trabalho de olhar para a sociedade de uma posição que não seja do alto.
Outra coisa: não há nada mais longe do "independentemente das preferências políticas" do que este manifesto. Ele é claramente um manifesto pró-Serra, e pró-mídia, por extensão. Ou por pleonasmo.
Não há um "projeto" de eliminar partidos políticos, não dá para levar isto a sério. A declaração do Lula sobre o DEM é exatamente a mesma e no mesmo tom com que Jorge Bornhausen se referiu, há poucos anos, ao PT. Na época, não me lembro de ninguém que hoje se mostra tão preocupado com os rumos da democracia ter publicado manifesto nenhum a respeito. Vou além: não sei de nenhuma tentativa do PT de cassar registro de partido ou impugnar candidatura de adversário. E se queremos falar de coisas concretas, e não de hipóteses mirabolantes, temos que lembrar que quem apoiou uma ditadura de fato foi o que hoje se autointitula "Democratas" (nunca um nome foi tão inapropriado...).
A liberdade é mesmo um valor muito caro a todas as pessoas. Liberdade de votar em quem quiser é também uma delas. Então você está no seu direito de manifestar sua opinião, e eu não vou me opor a isso, embora discorde quase completamente. Só devo lembrar que "liberdade" é um conceito bastante polissêmico, e que se presta a muitas interpretações. Uma liberdade inédita a muitas pessoas é a de ter seu próprio dinheiro e administrá-lo como achar melhor, sem precisar ser tutelado. E aí está a diferença fundamental entre o Bolsa Família e os programas que, segundo alguns, o originaram, como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, etc.
As urnas não vão afastar esse governo do poder, sinto muito. E não se trata de "política assistencialista" ou de "desempenho econômico", mas de toda uma parcela da população que se reconhece nestas políticas, se sente representada por elas. Pessoas que sentem que não estão apenas, como dizia Plínio Marcos, assistindo da arquibancada sem influir no resultado. Goste você e os signatários desse manifesto, essas pessoas é que estão influindo no resultado. Livremente, no voto. Democraticamente.

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